ENEM 2021: Não é crise, é projeto

Por Maria Angela Gomes, Agenda News

Publicado em 23/11/2021 13h06

ENEM 2021: Não é crise, é projeto Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
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Uma das frases mais famosas de Darcy Ribeiro é: “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”. A fala de Darcy ressoa com muita força quando pensamos no Enem 2021, afinal, em tempos de pandemia – ou mesmo fora dela - podemos sinalizar inúmeras negligencias por parte do governo com a educação brasileira. 

Com a nova presidência assistimos inúmeros ataques ideológicos a partir de falas que deslegitimam a ciência, o ensino da História, Filosofia, Literatura, entre outras áreas do conhecimento humano. Podemos afirmar que os ataques estruturais também se sobrepõem as mazelas da pandemia, afinal, o projeto de governo já incluía o desmonte de unidades educacionais com a finalidade de minimizar gastos. 

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É certo que a pandemia trás à tona um cenário muito pior do que o esperado, e é certo também que o desmonte da educação não começa a partir do último governo, ainda que seja nele que podemos identificar pioras drásticas. O acesso as universidades é uma questão muito cara ao Brasil, e quando utilizo o termo “cara”, não falo sobre uma questão financeira, mas sobre uma questão social. Inúmeros programas sociais foram inseridos nos últimos anos com o objetivo de levar acesso a jovens de classes inferiores ao ensino superior, mas o que vemos em 2021 é um número de inscritos no ENEM extremamente baixo. 

O ENEM é o segundo maior vestibular em nível mundial, perdendo apenas o Gaokao, na China. O exame que começou em 1998 com o intuito de avaliar os conhecimentos abordados durante o ensino médio, ganhou relevância real em 2009 quando tornando-se uma prova que possibilita o acesso a instituições de nível superior públicas através do SISU ou privadas através do PROUNI. O ENEM também é importante instrumento para concorrer a descontos nas universidades e programas de financiamento. Um grande problema do ENEM, mesmo com toda sua importância, sempre foi o acesso as universidades para pessoas pretas, de baixa renda ou oriundos de escola pública. Durante a pandemia, como sabemos, os mais afetados foram justamente as mesmas classes que lutavam por espaço na educação superior. 

Estudantes de baixa renda que em sua maioria não tiveram condições de acompanhar as dinâmicas criadas remotamente durante a pandemia, seja por acesso, seja por falta de um ambiente adequado aos estudos ou por não conseguirem conciliar o trabalho com os estudos em meio a uma enorme crise econômica que eleva os preços da alimentação, transporte e da vida de forma geral. Se no ano anterior o ENEM foi inviável para muitos, este ano ele vem acompanhado de um grande número de estudantes desanimados por não terem a preparação prévia necessária. 

A luta para realização do ENEM 2021 é extremamente válida. O ENEM continua sendo nosso instrumento de acesso as universidades de forma mais democrática possível, contudo, se não forem tomadas medidas que procurem minimizar as desigualdades sociais impostas pela pandemia a tendência é uma regressão ao acesso à educação superior ainda não experimentada por aqui, afinal, trabalhamos para avançar, ainda que em passos lentos, para o Brasil que cria possibilidades aos jovens. Aqueles que acreditam na educação lutam todos os dias para que o projeto de desmonte da educação seja impedido, para que a crise da educação não seja intencional.



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